sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Perfil Voluntário - Marta Pereira


Há exatamente 22 anos, em novembro de 1991, tornei-me voluntária no MAIS – Movimento de Apoio à Integração Social –, como recreadora, com crianças de meses a 3 anos. Naquela época, a atuação voluntária não era tão divulgada. Não existiam a Internet, as redes sociais e até mesmo o CVSP, que possui um sistema eficiente de busca, que coloca interessados em contato com entidades da sua região, e das mais diversas áreas de atuação.

Soube por um anúncio no jornal. Participei de um treinamento de dois dias, passei por entrevista com psicólogo. Fui aprovada!! Todos os sábados, rumava do Jardim São Luiz para o Pacaembu, depois de semana de trabalho e faculdade, para três horas de voluntariado. 

No começo não foi fácil enfrentar aquela realidade - que é a nossa realidade. A dúvida de sempre: será que realmente estou fazendo a diferença? É tão pouco tempo? São tantas crianças, cada uma com sua necessidade, tão carentes? Nessa hora, o grupo de voluntários experientes ajuda, e muito. Os chavões também: recebo mais do que dou; se cada um fizer um pouquinho, transformamos; o sorriso, de uma criança que seja, justifica; etc etc

O tempo passou. Do Pacaembu fomos para a Vila Guilhermina, na Zona Leste. Além da recreação, assumi outras responsabilidades e comecei a trabalhar também com adolescentes. Como diz minha amiga Renata Perez, que conheci no MAIS: “quando o vírus do voluntariado invade seu corpo de verdade, pelo coração, é fatal”.

Em 2010, interessei-me pelo trabalho do Instituto Fazendo História. Mais um treinamento e comecei a fazer o álbum de acolhidos no Abrigo Anália Franco, próximo a minha casa. Era um trabalho distinto da recreação, que fazia durante a semana à noite, simultaneamente ao MAIS, aos sábados.

Um ano depois, fui transferida para a Associação Maria Helen Drexel. Comecei com o álbum de dois garotos. Concluído o período de um ano, e já desligada do MAIS, perguntei se podia fazer recreação aos sábados, com mais crianças. 

Felizmente, meu pedido foi carinhosamente aceito e fui recebida de braços abertos. Desde agosto deste ano, sou voluntária de recreação no Lar 3, com crianças entre meses e nove anos. A cada sábado, construo com elas o nosso dia. Pode ser um filme com pipoca; leitura e desenho; fotos diversas - adoramos fazer caretas -; confeccionar um tapete com retalhos de tecido; árvores com revistas velhas; ou simplesmente conversar, planejar passeios. Não posso me esquecer das festas que participo, nas quais tenho contato com os acolhidos e educadores dos outros quatro lares. E parece que nos conhecemos há anos!!!

Por que comecei com isso? Porque não queria ver crianças vendendo balas nos cruzamentos, como acontecia no início dos anos 1990. Porque sabia que tinha responsabilidade por aquela situação. Porque queria fazer parte de uma sociedade melhor. Logo, precisava fazer algo.

Diante de tantos motivos, podem imaginar quantas crises já tive ao longo destes 22 anos. Afinal, as crianças estão matando nos cruzamentos. Os motivos deram lugar a questionamentos. Por que a situação se agrava, se há tantas entidades e voluntários, fazendo muito, e muito bem? O que estamos fazendo de errado, sem saber? O que falta? O que podemos melhorar? Ou só conseguimos ir até certo ponto, porque há interesses diversos, que desconhecemos – ou fechamos os olhos? –, que nos impedem de avançar?

Não me orgulho de ser voluntária por tanto tempo. Ao contrário, acredito que o Estado tem que se responsabilizar pelas mazelas da sociedade. Na área em que atuo, de crianças e adolescentes acolhidos, dar condições às famílias para ficarem com seus filhos; incentivar e promover o planejamento familiar; e tantas outras iniciativas, que vão além de recursos financeiros.

Mais um dilema!! Não me orgulho, mas não consigo viver sem, e me faz um bem enorme. Nestes 22 anos, acho que me tornei uma pessoa um pouquinho melhor. Aprendi que não devo julgar sem conhecer a história; que a renúncia pode ser uma prova enorme de amor; que diploma e academia não significam nada (fiz duas faculdades, pós-graduação, cursos diversos), pois aprendi muito mais com as crianças, adolescentes, alguns educadores dos abrigos pelos quais passei e famílias biológicas que tive o prazer de conhecer; que não devo reclamar da vida (mas ainda reclamo muito!), porque eu não tenho a menor ideia do que seja dificuldade (admito que Complexo de Poliana também não é a melhor saída!!!); e muito mais.

Neste período, fiz vários cursos, inclusive no CVSP, para me tornar uma voluntária mais eficiente. Em 2009, uni o útil ao agradável. Passei duas semanas em Cusco, no Peru, num misto de trabalho social e turismo. Fui conhecer o voluntariado que eles desenvolvem. Por 10 dias, frequentei uma entidade local, voltada para o trabalho com crianças, a causa que abracei!

A isso contabilizo momentos emocionantes, para os quais não tenho palavras para descrever, mas estão no meu coração. Somam-se os amigos-irmãos que fiz nesta jornada. E os inúmeros colegas e conhecidos, com os quais aprendi muito.

Por isso, e por muito que ainda tenho que doar e, sobretudo, evoluir, sigo no trabalho voluntário, e recomendo. Não me orgulho, mas é preciso fazer a nossa parte e, claro, necessito muito dessa dose semanal de energia – sou dependente, confesso! E no futuro, quando as mazelas não existirem (eu preciso acreditar nisso!), serei voluntária pela manutenção, aprimoramento.

Marta Pereira, 46 anos

3 comentários:

  1. Nossa muito legal sua historia tia marta! Hj tmb reconheço tudo q fizeram p mim...antes nao entendia o motivo do pq iam la sem receber nada! Isso prova o quanto é uma pesso humilde ...de muuito carater e q me ensinou a ter solidariedade! Hj tenho vontade de fazer oq fez e ainda faz! Mais um dia vou retribuir tdo carinho e afeto a quem precise ! Assim como vc vem fzendo! Parabens obrigda por tudo!!

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  2. Lindo!!!! Uma carreira cheia de emoções e lembranças... Te admiro muito e aprendi muito com você tambem!!! Parabéns por essa simplicidade e coração gigante!!!!

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  3. Eu acho bom esse trabalho espero que cada um desse voluntarios venha ter saude pra se dedicar

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